Antirretrovirais atuais garantem qualidade de vida aos soropositivos |
Weverton Nonato, de 19 anos, em tratamento desde os 13: "Virou rotina tomar os comprimidos na hora certa e fazer exames de carga viral a cada seis meses"
Sorriso franco e músculos fortes, a aparência saudável do estudante de publicidade Weverton Nonato incorpora a nova feição da AIDS no Brasil. Perto de completar 20 anos, o jovem tem a idade da epidemia. Contraiu o vírus ao ser amamentado com leite contaminado, proveniente do banco da maternidade, quando nasceu prematuro, aos 6 meses, em 1991. Era o auge da epidemia, que chegou ao país em 1983, mas ainda não se sabia que a amamentação era capaz de transmitir o HIV. Assim como Weverton, já há pessoas convivendo com o vírus na corrente sanguínea há 20, 25 anos. Em vez de HIV positivos, os sobreviventes da AIDS preferem ser tratados apenas como "posithivos".
No Brasil, o diagnóstico de AIDS deixou de representar sentença de morte. Passou a haver remédio para a maioria dos casos, depois da distribuição universal do coquetel de medicamentos no país. Hoje, cerca de 200 mil pessoas fazem uso da terapia. Estima-se que igual número tenha a doença sem saber. Com a vida garantida, portadores que vêm sendo medicados enfrentam outros dramas, como contornar os efeitos colaterais dos remédios e, principalmente, vencer o preconceito.
"Graças aos ANTIRRETROVIRAIS, as pessoas hoje estão vivendo muito bem. Estão banalizando a epidemia, porque não viram o que aconteceu com a geração anterior", alerta o médico David Uip, de São Paulo, que diagnosticou o primeiro caso de HIV no país, em 1983. "Hoje já nem lembro que tenho AIDS. Virou rotina tomar os comprimidos na hora certa e fazer os exames para medir a carga viral a cada seis meses", revela o estudante de publicidade. Desde os 13 anos Weverton faz uso da tríplice combinação que compõe o coquetel.
Para preservar a saúde, ele se alimenta bem, pratica musculação e, principalmente, mantém a autoestima elevada. Nos portadores de HIV, assim como no caso de outras doenças, a depressão abre portas para doenças oportunistas. Com a descoberta da doença por Weverton, veio uma novidade anunciada pela médica dele em plena fase da adolescência, com os hormônios em ebulição: "Nunca vou poder ter uma relação sem CAMISINHA, a não ser que descubram a cura".
Por medo de ser rejeitada, a designer de sobrancelhas Márcia (nome fictício), de 44, é ainda mais radical. Ela não revelou o diagnóstico para a mãe, nem para o único filho, nem para as amigas íntimas e muito menos para as clientes. Só uma amiga de infância sabe, pois está encarregada de cuidar do seguro de vida, deixado para pagar a faculdade do filho quando ela morrer. Márcia só se lembra que tem AIDS quando troca de parceiro, pois se sente na obrigação de avisar que é SOROPOSITIVA.
Outra preocupação dos portadores são os efeitos colaterais dos remédios da linha mais antiga, como a lipodistrofia, que acomete em maior ou menor grau a todos. Em alguns, leva ao acúmulo de gordura no alto do pescoço, que precisa ser retirada com lipoaspiração. Em outros, a gordura das pernas, dos braços e do rosto migra para outros lugares do corpo. No Grupo Vhiver, uma das maiores organizações não governamentais de apoio aos portadores de AIDS do país, com 11 mil atendimentos mensais, foi montada uma academia completa de musculação, que ajuda a prevenir a lipodistrofia e a resgatar a autoestima dos soropositivos. Se algum desavisado passar pela casa azul da Rua Bernardo Guimarães, 512, pode pensar que entrou por engano em uma academia comum, onde jovens saradões exercitam os músculos. É difícil acreditar que todos têm HIV, inclusive a maioria dos professores contratados.
No início, a AIDS provocava emagrecimento instantâneo do portador, que descobria a doença em fase mais avançada e enfrentava as reações às poucas variedades de remédios disponíveis, que causavam diarreias terríveis. Maria do Carmo, de 54 anos, cabeleireira do Morro do Papagaio, enfrentou uma deformidade do rosto que a deixou, segundo ela própria define, com aspecto de caveira. Por quatro anos ela teve vergonha de sair de casa. O efeito colateral do remédio foi corrigido com preenchimento da face por meio de injeções, espécie de botox autorizado pelo SUS. Quando descobriu o HIV, contaminada pelo ex-marido, Maria do Carmo já estava em processo adiantado de infecção. Com 1,70m de altura, chegou a pesar 38 quilos e foi obrigada a engolir 36 comprimidos por dia para combater o vírus e todas as doenças oportunistas que se instalaram no organismo. Naquela época, na década de 1990, a adesão dos pacientes ao tratamento era baixa, porque o coquetel era formado por exagerada quantidade de cápsulas por dia, algumas delas desproporcionais, amargas e que exigiam horas de jejum e disciplina rígida de horário, segundo relatos dos pacientes mais antigos.
Fonte: Estado de MG
Enviado pelo jovem: João Geraldo Netto
Sorriso franco e músculos fortes, a aparência saudável do estudante de publicidade Weverton Nonato incorpora a nova feição da AIDS no Brasil. Perto de completar 20 anos, o jovem tem a idade da epidemia. Contraiu o vírus ao ser amamentado com leite contaminado, proveniente do banco da maternidade, quando nasceu prematuro, aos 6 meses, em 1991. Era o auge da epidemia, que chegou ao país em 1983, mas ainda não se sabia que a amamentação era capaz de transmitir o HIV. Assim como Weverton, já há pessoas convivendo com o vírus na corrente sanguínea há 20, 25 anos. Em vez de HIV positivos, os sobreviventes da AIDS preferem ser tratados apenas como "posithivos".
No Brasil, o diagnóstico de AIDS deixou de representar sentença de morte. Passou a haver remédio para a maioria dos casos, depois da distribuição universal do coquetel de medicamentos no país. Hoje, cerca de 200 mil pessoas fazem uso da terapia. Estima-se que igual número tenha a doença sem saber. Com a vida garantida, portadores que vêm sendo medicados enfrentam outros dramas, como contornar os efeitos colaterais dos remédios e, principalmente, vencer o preconceito.
"Graças aos ANTIRRETROVIRAIS, as pessoas hoje estão vivendo muito bem. Estão banalizando a epidemia, porque não viram o que aconteceu com a geração anterior", alerta o médico David Uip, de São Paulo, que diagnosticou o primeiro caso de HIV no país, em 1983. "Hoje já nem lembro que tenho AIDS. Virou rotina tomar os comprimidos na hora certa e fazer os exames para medir a carga viral a cada seis meses", revela o estudante de publicidade. Desde os 13 anos Weverton faz uso da tríplice combinação que compõe o coquetel.
Para preservar a saúde, ele se alimenta bem, pratica musculação e, principalmente, mantém a autoestima elevada. Nos portadores de HIV, assim como no caso de outras doenças, a depressão abre portas para doenças oportunistas. Com a descoberta da doença por Weverton, veio uma novidade anunciada pela médica dele em plena fase da adolescência, com os hormônios em ebulição: "Nunca vou poder ter uma relação sem CAMISINHA, a não ser que descubram a cura".
Por medo de ser rejeitada, a designer de sobrancelhas Márcia (nome fictício), de 44, é ainda mais radical. Ela não revelou o diagnóstico para a mãe, nem para o único filho, nem para as amigas íntimas e muito menos para as clientes. Só uma amiga de infância sabe, pois está encarregada de cuidar do seguro de vida, deixado para pagar a faculdade do filho quando ela morrer. Márcia só se lembra que tem AIDS quando troca de parceiro, pois se sente na obrigação de avisar que é SOROPOSITIVA.
Outra preocupação dos portadores são os efeitos colaterais dos remédios da linha mais antiga, como a lipodistrofia, que acomete em maior ou menor grau a todos. Em alguns, leva ao acúmulo de gordura no alto do pescoço, que precisa ser retirada com lipoaspiração. Em outros, a gordura das pernas, dos braços e do rosto migra para outros lugares do corpo. No Grupo Vhiver, uma das maiores organizações não governamentais de apoio aos portadores de AIDS do país, com 11 mil atendimentos mensais, foi montada uma academia completa de musculação, que ajuda a prevenir a lipodistrofia e a resgatar a autoestima dos soropositivos. Se algum desavisado passar pela casa azul da Rua Bernardo Guimarães, 512, pode pensar que entrou por engano em uma academia comum, onde jovens saradões exercitam os músculos. É difícil acreditar que todos têm HIV, inclusive a maioria dos professores contratados.
No início, a AIDS provocava emagrecimento instantâneo do portador, que descobria a doença em fase mais avançada e enfrentava as reações às poucas variedades de remédios disponíveis, que causavam diarreias terríveis. Maria do Carmo, de 54 anos, cabeleireira do Morro do Papagaio, enfrentou uma deformidade do rosto que a deixou, segundo ela própria define, com aspecto de caveira. Por quatro anos ela teve vergonha de sair de casa. O efeito colateral do remédio foi corrigido com preenchimento da face por meio de injeções, espécie de botox autorizado pelo SUS. Quando descobriu o HIV, contaminada pelo ex-marido, Maria do Carmo já estava em processo adiantado de infecção. Com 1,70m de altura, chegou a pesar 38 quilos e foi obrigada a engolir 36 comprimidos por dia para combater o vírus e todas as doenças oportunistas que se instalaram no organismo. Naquela época, na década de 1990, a adesão dos pacientes ao tratamento era baixa, porque o coquetel era formado por exagerada quantidade de cápsulas por dia, algumas delas desproporcionais, amargas e que exigiam horas de jejum e disciplina rígida de horário, segundo relatos dos pacientes mais antigos.
Fonte: Estado de MG
Enviado pelo jovem: João Geraldo Netto
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