quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Aids: por trás das mortes, diagnóstico tardio


A demora no diagnóstico de pacientes com AIDS é o fator que mais explica o número ainda elevado de mortes provocadas pela doença - no ano passado, foram registrados 11.965 óbitos no país. Ao manter o vírus no organismo por anos, sem tratamento, cria-se na pessoa uma espécie de canal para as chamadas doenças oportunistas, como TUBERCULOSE e pneumonia, que agravam a saúde do SOROPOSITIVO.

- Quando tardio, o diagnóstico surge, muitas vezes, na fase mais avançada da doença. A pessoa já começa o tratamento em um estado imunológico muito comprometido pelo HIV - explica Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa de DST/AIDS de São Paulo.

Segundo ela, além do medo de fazer o teste anti-HIV, muitas pessoas não chegam ao diagnóstico porque desconhecem que o exame pode ser feito gratuitamente no SUS.

- Falta uma campanha mais ampla e esclarecedora em todo o país sobre a gratuidade dos exames - diz Maria Clara.

Para o infectologista David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, quanto mais cedo o paciente procurar assistência após suspeita de infecção, melhor:

- Não dá para a pessoa viver com a dúvida se está ou não contaminada. Tem que começar o tratamento o quanto antes para evitar problemas sérios. Está morrendo quem deixa para começar a terapia depois que a saúde já está debilitada.

Ativistas da comunidade gay também demonstram preocupação em relação ao número de infecções e óbitos causados pela AIDS.

- O alto índice de jovens gays e TRAVESTIS infectados se deve à homofobia institucional, já que o governo detém informações epidemiológicas dando conta de que 11% dos gays estão contaminados, contra 0,8% dos heteros. Mesmo assim, só 0,9% do orçamento do Ministério da Saúde para programas de prevenção à AIDS é destinado a projetos relacionados a homossexuais - afirma o fundador do Grupo Gay da Bahia, o antropólogo Luiz Mott.

Presidente da Parada Gay de São Paulo, o sociólogo Ideraldo Beltrame lembra que, no início da epidemia, os ativistas se empenharam na prevenção, mas depois enveredaram pela busca de conquistas sociais, como cirurgias para TRANSEXUAIS pelo SUS e adoção de crianças.

- Fomos acusados em nível mundial de ser o grupo de risco causador da epidemia. Por essa razão, houve grande empenho na prevenção. Hoje, nos voltamos mais para a questão dos direitos.

O ministério afirmou que vai gastar R$3 milhões em uma campanha de prevenção, a ser iniciada amanhã, voltada para os jovens gays, grupo que está muito mais exposto à contaminação - a infecção entre eles subiu 10% em 12 anos. As mensagens chegarão às mídias sociais, festas e shows. E eventos culturais regionais contarão com tendas que oferecerão testes e camisinhas.

Segundo o diretor da Unaids - Programa das Nações Unidas para HIV e AIDS - no Brasil, Pedro Chequer, o governo já sabia que era necessário fortalecer ações regionais de enfrentamento à doença, mas não tinha dinheiro para fazê-lo:

- O Ministério da Saúde vai buscar fortalecer ações regionais. É uma recomendação da Unaids, que diz que a AIDS tem que ser enfrentada a partir das diversidades locais. Antes, já havia essa necessidade, mas não havia recursos.


Fonte: O Globo
Por: Flávio Freire, Jaqueline Falcão e Catarina Alencastro
De: São Paulo e Brasília
Enviado por: João Geraldo Netto

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