quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pesquisadores acreditam estar perto de uma vacina

Salvador - O desenvolvimento de uma vacina anti HIV/AIDS será discutida em clima de expectativa e otimismo entre pesquisadores no IX Simpósio Brasileiro de Pesquisa em HIV/AIDS (Simpaids), a partir de hoje, no Bahia Othon, em Salvador. A doença vem provocando estragos ao longo de 30 anos, desde que foi identificada em 1981. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde já foram registrados na capital, de 1984 até 2010, quase 7 mil casos e pesquisadores buscam traçar um perfil regional da síndrome de imunodeficiência. O presidente do Simpósio, médico pesquisador da Fiocruz/Bahia, Bernardo Galvão-Castro, destacou a importância de eventos como o simpósio e de pesquisas produzidas no Brasil e na Bahia sobre tipos virais.

Bahia

"A pesquisadora baiana Joana Paixão Monteiro demonstrou que há diferenças nos vírus que circulam na Bahia em relação a outros estados brasileiros. Isso é importante porque, se conhecermos o subtipo prevalente na Bahia, será possível adequar rapidamente uma vacina desenvolvida no exterior", disse Galvão sobre o trabalho que será apresentado pela pesquisadora da Fiocruz no evento. "Podemos dizer que hoje existem bases científicas para o desenvolvimento de uma vacina. As questões com relação ao tratamento estão avançadas. A indústria farmacêutica tem investido na busca da cura, mas é a vacina que vai proporcionar o maior controle da epidemia", comentou Galvão.

Vítimas

Em 30 anos, 6.425 pessoas morreram na Bahia em decorrência da contaminação pelo vírus HIV. O número representa 26,67% do total de 24.086 casos registrados entre 1980 e 2010 na região Nordeste, de acordo com boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde. Há dois meses, um grupo de pesquisadores americanos anunciou ter isolado um anticorpo capaz de neutralizar o vírus HIV, o que trouxe novo fôlego para a temática. "Foi uma experiência in vitro como funcionará no corpo humano, mas de qualquer forma apontou uma direção nas pesquisas", avaliou o diretor-geral do DEPARTAMENTO DE DST/AIDS e Hepatites virais brasileiro, Dirceu Greco, que também participará do simpósio. Pesquisadores brasileiros integram a rede de cooperação na busca pela vacina para o HIV, mas, segundo Greco, é preciso investir mais se quisermos estar mais proximos da linha de frente deste trabalho. Segundo ele, entraves burocráticos e de impostos contribuem para o atraso: "Às vezes, levamos um ano para importar reagentes necessários às pesquisa".

AIDS NO BRASIL

1981 - Doença é detectada nos EUA, Haiti e África
1982 - Primeiro caso é registrado no Brasil, em São Paulo
1983 - Cientistas do Instituto Pasteur, na França, chefiados por Luc Montagnier, isolam o vírus
1990 - Morre cantor Cazuza, aos 32 anos
1993 - Brasil passa a produzir AZT (coquetel que trata AIDS)
1999 - Mortalidade dos pacientes cai 50% e qualidade de vida melhora
2008 - Fiocruz fabrica teste para detectar HIV em 15 minutos, ao custo de US$ 2,60 cada.

Vacina reduziria novas infecções em até 73% e as mortes em 30%

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) apontou que a introdução de uma vacina no Brasil, mesmo que de eficácia limitada, reduziria até 73% no número de novas infecções e em 30% o número de mortes por HIV. O ano considerado para a introdução da vacina foi 2015, com efeito estimado até 2050, quando 80% da população adulta entre 15 e 49 anos estaria imunizada por uma vacina de 40% de eficácia. Sem qualquer nova intervenção, a projeção indicou mais de 1 milhão de novas infecções e quase 500 mil mortes, de 2010 a 2050.

Incidência

Do início da epidemia, em 1980, até junho de 2010, o Brasil registrou 592.914 casos de AIDS. A maior incidência é entre jovens de 13 a 24 anos, responsáveis por 66.751 (11,3%) dos casos acumulados no País. Outro dado que chama a atenção é que essa é única faixa etária em que a incidência é maior entre as mulheres. A região Sudeste detém 38,2% dos casos; enquanto o Nordeste ocupa o segundo lugar com 21,9%. Uma pesquisa divulgada este ano, feita com 1.081 pacientes do Centro Especializado em Diagnóstico, constatou que 60% (648) dos portadores do vírus HIV têm acesso tardio ao tratamento. Ou seja, as pessoas chegam ao serviço com a fase AIDS, quando as células imunológicas CD4 linfócito T estão iguais ou abaixo de 350, explica Inês Galvão, PhD em epidemiologia e professora do Instituto de Saúde Pública da Universidade Federal da Bahia. Os motivos incluem pouca oferta de serviços especializados e indicadores socioeconômicos e de identidade sexual.

Vítimas mantêm expectativa de cura após surpresa de diagnóstico

Apesar da existência do chamado conquetel anti-HIV, que ajudou a ampliar a sobrevida dos pacientes, a AIDS continua pregando surpresas. Internada às pressas no Hospital Roberto Santos para tratar uma tuberculose, Renata Paes (nome fictício), 42, não imaginava que receberia um segundo diagnóstico: HIV positivo. "Meu mundo acabou. Pensei em suicídio várias vezes", conta, revelando não saber de quem, nem com que idade, contraiu o HIV. "Tudo leva a crer que foi do meu ex-marido. Só pode ter sido ele", diz. Ela é mãe de um filho de 9 anos, mas, como não fez pré-natal durante a gravidez, a criança contraiu o vírus ao nascer.

Esperança

Grávida de oito meses e mãe de quatro crianças, Ana Paula, 34, descobriu que tinha o HIV durante o pré-natal da terceira filha. A menina nasceu soronegativa; as duas mais velhas não tiveram sorte. Ana Paula foi infectada pelo ex-marido, que é usuário de drogas. "É um choque. Até hoje algumas pessoas da minha família não sabem", afirma. As duas famílias nutrem expectativa de cura. "Se a cura não vier para mim, que venha para meus filhos", deseja Ana Paula. Renata completa: "A cura virá, com certeza", emociona-se. Quem as ampara é Conceição Macedo, do Instituto Beneficente que leva o seu nome. Em Pernambués, 40 crianças soropositivas são assistidas, entre elas os filhos de Ana Paula e Renata. "Eu acolho muitas famílias, dou cesta básica, moradia. Faço um trabalho social sério e compensador", resume Conceição Macedo.


Fonte: A Tarde (Salvador - Bahia)
Por: Carine Andrade e Tássia Correia
Enviado por: João Geraldo Netto

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