quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Controle da Aids deve ser permanente (Editorial)

O Brasil está entre os países que mais a sério, e com apreciável eficácia, enfrentam o flagelo da AIDS. O poder público contabiliza estimulantes - ainda que não ideais - resultados nessa guerra, por conta de uma combinação de medidas preventivas e outras de redução de danos, notadamente uma política que flexibiliza o acesso a coquetéis de medicamentos capazes de inibir o desenvolvimento da doença. Dados do Boletim Epidemiológico AIDS/DST divulgados anteontem pelo Ministério da Saúde mostram que a incidência de infectados na população em geral se manteve estável entre 1998 e 2010, com uma leve queda de 18,7 para 17,9 casos em grupos de cem mil habitantes.

Mas, esmiuçados os números do documento, a curva do perfil epidemiológico mostra uma inquietante inversão. Descontada a tendência de estabilização na Região Sudeste, que concentra pouco mais de 50% dos infectados pelo HIV no país, constata-se que o número de novos casos cresceu nas demais regiões. Mais grave é o aumento (10%) da contaminação entre jovens homossexuais de 15 a 24 anos. Dados comparativos reforçam essa preocupação. Caso, por exemplo, da constatação de que na mesma faixa etária caiu o índice de contaminação entre heterossexuais. Houve queda também entre usuários de drogas e dos registros de transmissão vertical (quando a mãe passa o vírus para o bebê). São indicadores que evidenciam a necessidade de se adotarem ações preventivas específicas para este grupo de risco.

Em relação ao aumento do número de casos fora da Região Sudeste é aceitável a versão técnica de que, entre outras razões, no Norte e no Nordeste, onde o boletim detectou os mais altos índices de novos infectados, testes passaram a ser feitos em áreas onde antes não havia acesso a exames. Isso terá levado para as estatísticas um universo de doentes não detectado em levantamentos anteriores.

Mas, na questão do crescimento da AIDS entre jovens gays, misturam-se aspectos comportamentais e falhas na política pública de prevenção. Esta geração não viveu os primeiros e apavorantes anos de disseminação, até então sem controle, de uma doença que, na época, registrava altíssimo grau de letalidade quase imediata, e sequer foi testemunha das ações de luta contra a AIDS nos anos 90, observa o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. A descoberta de medicamentos que atenuam a manifestação do mal e dão sobrevida às vítimas também contribui para um quase natural relaxamento com cuidados que, os números comprovam, continuam sendo essenciais para evitar o contágio.

Este quadro deixa patente que não se pode afrouxar com as campanhas de esclarecimento e com o aperfeiçoamento das ações de redução de danos. São providências cruciais para manter vivas as informações sobre a doença que ajudaram a manter sob controle o quadro de infecções em geral no país. E, sobretudo, para ampliar o nível de consciência dos grupos de risco sob maior exposição ao contágio, alertando-os para a realidade, ainda inescapável, de que, mesmo sob algum nível de controle de letalidade, a AIDS ainda é mortal.


Fonte: O Globo
Enviado por: João Geraldo Netto

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