Para estimular o sexo seguro durante o período de festas de Carnaval, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde lançou na tarde desta quinta-feira, no Rio de Janeiro, uma campanha voltada para jovens de 15 a 24 anos, principalmente gays.
Pela primeira vez, as travestis receberam atenção especial. Em um dos cartazes, um rapaz e uma travesti aparecem juntos, como um casal. A ideia é mostrar que esse tipo de situação é "normal" e que o único problema em qualquer relação de Carnaval é se esquecer do uso da camisinha.
Eduardo Soares, articulador de Educomunicação da Pastoral da Juventude de uma arquidiocese no Pará, avaliou que a inclusão de travestis pode aumentar a visibilidade do público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) em outros ministérios. Mas, ele tece algumas críticas. "O material resume o carnaval somente a sexo. A frase ´isso rola muito´ poderia ser trocada por outra expressão de cuidado com a saúde".
Kleber Mendes, ativista no Paraná integrante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, disse que a forma como os cartazes foram contextualizados contribui para o estigma. "Mostram a travesti em um beco, os gays em uma balada e um casal heterossexual na praia, com uma ambientação romantizada". Segundo ele, a campanha deixa de contemplar o olhar do movimento social.
Marta McBritton, coordenadora do Instituto Cultural Barong, de São Paulo, gostou da forma como os diferentes públicos foram apresentados no material gráfico. "Os casais receberam o mesmo tratamento de imagem e cenário semelhante, traduzindo a `normalidade` das relações héteros, homossexuais e com travestis".
Marta acredita que é fundamental haver uma avaliação do impacto das ações feitas durante o Carnaval.
Já William Amaral, presidente da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids no núcleo Rio de Janeiro, considerou a campanha fraca. "O filme voltado para o público gay é uma caricatura. Diferente da encenação voltada para os heterossexuais, o casal gay mal se toca", avaliou.
Amaral criticou ainda o filme que será veiculado na mídia depois do Carnaval. O vídeo incentiva os foliões que transaram sem camisinha a procurarem um serviço de saúde para fazer o exame de teste rápido. "A mensagem é para que as pessoas façam o exame nas unidades básicas de saúde, e não nos serviços especializados em DST/aids", disse.
Segundo o Ministério da Saúde, assim como nos anos anteriores, serão veiculadas mensagens incentivando a realização do teste de HIV depois do período de folia. As ações incluem cartazes, anúncios na televisão, no rádio, bonés, entre outros materiais.
Ações pontuais e de pouco alcance
Alguns ativistas criticaram a maneira como usualmente é feita a distribuição dos materiais. "Nunca vi um cartaz em Porto Alegre numa escola de samba, por exemplo, onde os grupos fazem festa e ensaios para se preparar para o Carnaval", disse Alexandre Böer, jornalista especializado em comunicação em saúde e integrante do grupo SOMOS - Comunicação, Saúde e Sexualidade, do Rio Grande do Sul.
De Pernambuco, a coordenadora da ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero defendeu mais ações de prevenção ao longo do ano. "Falta política estratégica. Não adianta ter campanha de Carnaval e ao longo do ano não fornecer preservativo feminino e os recursos destinados às ONGs não chegarem às entidades."
Hugo Hagström, integrante da ONG paulistana Grupo de Incentivo à Vida (GIV) e técnico em publicidade, se disse preocupado com o incentivo ao teste de HIV no período pós-festa. Hugo questionou se a estrutura de saúde do País tem condições de receber um grande número de pessoas que se descubram com o vírus da aids. "Se em São Paulo há unidades especializadas que estão cheias e deixando de atender novos usuários, como será a situação no restante do País?".
Importância da publicidade governamental
A publicitária Josi Paz, autora do livro ‘Aids anunciada: a publicidade e o sexo seguro’ (Editora Unb), declarou que a campanha de prevenção ao HIV tem uma importância que extrapola o público-alvo das peças publicitárias. Segundo Josi, a publicidade do governo federal é uma fala que ‘costura’ as ações locais nos dias de Carnaval e aponta o que é necessário dizer na perspectiva da política pública de saúde do País.
"Certamente há o risco do estereótipo, pois a linguagem publicitária é feita de estereótipos. Mas isso é do processo de produção de uma campanha como essa, ousada", avaliou.
Josi defendeu que a campanha deveria ter veiculação gratuita, a exemplo do que ocorre, segundo ela, com as ações do Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).
Fonte: Agência Aids
Por: Fábio Serrato
Enviado por: João Geraldo Netto
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